O dinheiro está se aproximando de sua maior reinvenção em séculos. A tecnologia moderna e até a pandemia de coronavírus levaram os consumidores a ir sem dinheiro, e com conceitos alternativos como stablecoins e criptomoedas se consolidando, os bancos centrais estão agindo rapidamente para garantir que não fiquem para trás na inovação. O objetivo é uma forma digital de dinheiro que possa competir com alternativas do setor privado por ser mais segura, mais resiliente e mais barata.
1. Como seriam os CBDCs? Não tão diferente, pelo menos na superfície, de manter dinheiro eletrônico em uma conta bancária e usar cartões, smartphones ou aplicativos para enviar esse dinheiro para o mundo. A principal diferença é que o dinheiro fornecido por um banco central – como dinheiro – geralmente é considerado um ativo livre de risco. Por exemplo, uma nota de dólar emitida pelo Federal Reserve dos EUA sempre vale US$ 1. Um dólar em uma conta bancária comercial, embora em teoria seja conversível em papel-moeda sob demanda, está sujeito aos riscos de solvência e liquidez desse banco, o que significa que os consumidores nem sempre podem acessá-lo e podem perder dinheiro se um banco falir. CBDCs, como notas e moedas bancárias, seriam de responsabilidade direta do banco central, carregando sua garantia.
2. O que os CBDCs têm a ver com criptomoedas? Não muito. Mesmo quando o valor do Bitcoin subiu, seu uso em transações de pagamento ainda era limitado. O movimento das criptomoedas – onde grupos de cidadãos privados desenvolvem protocolos para suas próprias versões de dinheiro – simboliza uma revolta contra a autoridade financeira centralizada, enquanto os bancos centrais e CBDCs a simbolizam. Uma possível sobreposição é a tecnologia blockchain pioneira do Bitcoin, que funciona como um registro de transações distribuído publicamente. Alguns países estão experimentando o blockchain, embora os especialistas duvidem que, em sua forma atual, a tecnologia possa lidar com o volume que um CBDC pode gerar. Os bancos centrais de desenvolvimento de criptomoedas com as quais a maioria se preocupa envolve “stablecoins”, que atrelam seu valor a uma moeda ou ativo existente. Os planos que o operador do Facebook anunciou em 2019 para uma stablecoin (primeiro chamado Libra, depois Diem, agora morto) deram um choque nos bancos centrais e aceleraram o trabalho em CBDCs.
3. Como os CBDCs funcionariam? Os bancos centrais estão experimentando em duas linhas principais: atacado e varejo. Em aplicativos de varejo, os consumidores podem ter acesso direto ao dinheiro digital do banco central, por exemplo, em uma conta bancária existente ou por meio de uma carteira oferecida por um provedor de serviços de pagamento. Em projetos de atacado, o foco está em explorar tecnologias mais inovadoras para pagamentos e liquidações interbancárias, e muitas vezes eles até experimentam blockchain. Um CBDC por atacado não seria um conceito totalmente novo, já que os bancos centrais já concedem aos credores acesso a contas digitais.
4. Como os pagamentos melhorariam? Os pagamentos digitais podem ser liquidados mais rapidamente do que são atualmente – até instantaneamente, eliminando o risco de crédito – e de forma mais barata. Em alguns países onde os métodos de pagamento eletrônico não são muito difundidos devido aos altos custos para os comerciantes, os pagamentos por cartão ou telefone podem se tornar mais comuns. Além disso, um CBDC de custo mais baixo poderia promover a concorrência entre os provedores de serviços de pagamento, de modo que até os pagamentos convencionais com cartão – como Visa ou Mastercard – pudessem se tornar mais baratos.
5. Quais são as desvantagens potenciais? A Dinamarca e alguns outros países descartaram o modelo de varejo para CBDCs, uma vez que os bancos tradicionais que apoiam as economias fornecendo empréstimos podem ser prejudicados se os depositantes mudarem em massa para contas no banco central. Os defensores da privacidade se preocupam com a perda do anonimato e o potencial de vigilância do governo. 6. Quem está tentando isso? O Fundo Monetário Internacional diz que cerca de 100 países estão em diferentes estágios de exploração. O eNaira da Nigéria entrou em circulação no final de 2021, a Índia está lançando seu primeiro piloto da rupia digital e, na China, centenas de milhões de consumidores já usaram o yuan digital durante seus testes. Algumas das ilhas do leste do Caribe que compartilham um banco central lançaram sua própria moeda digital, DCash. Seu uso foi expandido para São Vicente e Granadinas em 2021 após a erupção de um vulcão; o lançamento foi visto como uma parte fundamental dos esforços de recuperação.
7. Quem não é? O Fed também foi indiferente à ideia. Ele publicou um artigo descrevendo os benefícios, mas as autoridades dizem que não haverá “Fedcoin” sem ação do Congresso. No entanto, realizou pesquisas: em novembro, um funcionário do Federal Reserve Bank de Nova York disse que uma equipe de lá encontrado que uma moeda digital do banco central usando tecnologia de contabilidade distribuída poderia reduzir o tempo necessário para liquidar transações de câmbio de dois dias para menos de 10 segundos. Outros bancos centrais também dizem que estão desenvolvendo capacidade técnica, mas não veem necessidade urgente de agir. O Banco Nacional Suíço conduziu o que diz ser testes bem-sucedidos de pagamentos digitais, mas as autoridades expressaram dúvidas sobre se um CBDC preencheria uma lacuna real. Vice-presidente do Banco Nacional Suíço Martin Schlegel comparado CBDCs para “uma roda cuja estrada não foi construída”.
8. Existe um precedente para isso? Não exatamente, embora haja paralelos. Durante séculos, era comum que as transações fossem realizadas em notas e moedas de emissão privada, apesar das infinitas dores de cabeça causadas por valores flutuantes. No final de 1800, muitos governos que buscavam maior controle monetário deram a seus bancos centrais o monopólio da emissão de moeda. Agora, com os pagamentos eletrônicos emergindo dinheiro e até ativos voláteis como criptos, os bancos centrais estão vendo a necessidade de serem criativos novamente.
Bloomberg 07/11/2022 Por Carolynn Look e Bastian Benrath
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